Nascido na Comunidade do Coque, no Recife (PE), Ronald Santos Cruz, de 22 anos, descobriu sua paixão pela fotografia em 2016, enquanto cursava Comunicação Social, com habilitação em Rádio, TV e Internet. À época, também tentou a carreira de modelo, mas, ao enviar suas fotos para as agências, sempre recebia a mesma resposta: “olha, você é bonito, mas não se encaixa no nosso padrão”.
A partir de tantas negativas, o fotógrafo decidiu criar algo com o que ele se identificasse. “Uni o que já sabia de básico, que era a fotografia, e botei na cabeça: já que dizem que precisa ter um padrão estético de cor e aparência para você ser bonito, então vou lançar meu próprio projeto para retratar pessoas semelhantes a mim, pessoas que por muito tempo foram silenciadas: homens e mulheres negras“, relata à Catraca Livre.
Em seu ensaio fotográfico, divulgado por meio do Instagram e do Twitter, Ronald registra a beleza e a felicidade dos corpos negros. E ele explica o por que desta escolha: “Eu faço da minha arte meu meio de protesto, de luta e de propagar a alegria de e para pessoas negras”. “É muito triste ver tanta gente como eu morrendo todos os dias, mães negras chorando… O meu trabalho muda a lógica como o corpo negro é representado geralmente: morto, preso ou investigado”, completa.
Mais do que isso, o fotógrafo quer também que outros profissionais passem a retratar essas pessoas de outra forma. “Quero que o corpo negro não seja apenas um corpo que transmita a dor e o sofrimento. Que ele transmita sorriso, felicidade e esperança”, explica.
Trajetória e reconhecimento
Atualmente, Ronald Cruz mantém vários trabalhos para conseguir pagar as contas: além de fotógrafo, é violinista, editor de vídeo e videomaker. “Infelizmente, eu não consigo e nem posso me dar ao luxo de ter apenas um emprego. A gente sabe que a vida para um jovem negro no nosso país é difícil, então a gente precisa se equilibrar de muitas formas para se sustentar”, declara.
De acordo com o recifense, ele “subiu uma escada” para conquistar tudo o que tem hoje. Tudo começou com um projeto que criou em parceria com um amigo, Thiago Paixão, chamado “Crespografia”. “A ideia nasceu aqui em Recife com o intuito de valorizar a beleza dos cabelos crespos e cacheados, pois, por muito tempo, eles foram vistos como uma coisa feia, errada…”, afirma.
Agora, em seu novo projeto, o fotógrafo busca trazer essa memória de uma esperança que pessoas negras nunca tiveram: de serem protagonistas da sua própria felicidade. Para ele, a reação do público tem sido sensacional. “Não tenho palavras para descrever o quanto isso me faz feliz”, ressalta.
“No dia 31 de maio, eu comemorei 4 mil seguidores no meu Instagram. Lembro que chamei minha mãe e minha namorada para comprar uma pizza e comemorar junto porque eu estava vendo o reconhecimento do meu trabalho, mesmo que de forma pequena. E chegar nos dias de hoje e ver que estou com 24 mil seguidores é muito gratificante”, continua.
“Em meio a tudo isso que estamos vivendo contra o racismo, o apoio e as mensagens bonitas que tenho recebido, de pessoas que se identificaram com o meu trabalho, é sem igual. Eu sempre digo: quando um de nós morremos, é como se todos do movimento negro morressem juntos. Então, quando um de nós começa a ascensão, a vencer, é como se toda uma estrutura de um corpo negro se levantasse junto”, finaliza Ronald.
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Este fotógrafo retrata a felicidade e a beleza de pessoas negras publicado primeiro em Catraca Livre
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