Se a tecnologia desta década permitia o trabalho remoto, a pandemia do novo coronavírus nos empurrou de vez para o home office. Essa forma de trabalhar, é claro, tem as suas vantagens, mas nem tudo são flores. O uso de redes sociais e aplicativos de mensagem para compensar o distanciamento social aumentou a dissolução da fronteira entre a vida privada e a profissional, gerando ansiedade. Também há exigência de alta produtividade por parte das empresas.
Uma pesquisa realizada pelo Centro de Inovação da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas) mostrou que mais da metade dos brasileiros apresenta dificuldade moderada ou muita dificuldade para conseguir equilibrar demandas pessoais e profissionais. O problema chega a 82,6% entre os entrevistados com até 25 anos.
Em contrapartida, um levantamento da startup de clima organizacional Pulses revelou que 78% dos consultados se sentem mais produtivos na modalidade de trabalho a distância.
Ansiedade x produtividade
Estar o tempo todo conectado pode aumentar a produtividade e, com ela, a ansiedade. A mistura de família, amigos e contatos profissionais confunda a percepção entre “casa e trabalho”.
“Há um tempo, certamente pensaríamos diferente sobre as mensagens e as videoconferências, porque a vivência da pandemia nos abriu para o encontro com o inesperado, com o não-saber”, explica a psicóloga Juliana Fagundes. “Fomos intensificando os laços por essas vias, uma vez que o afastamento social nos impossibilita de ir de outro jeito ao encontro de quem gostamos”, argumenta.
Segundo um estudo sobre gestão de tempo da Fundação Instituto de Administração (FIA), 72% dos entrevistados não conseguem um convívio equilibrado entre as necessidades da empresa e as necessidades pessoais.
Ao mesmo tempo que existe a percepção de que a profissão avança no espaço pessoal, há o medo da demissão –principalmente em um momento de crescimento do desemprego. Para manter a cabeça no lugar, é necessário vigiar o próprio comportamento e até impor limites físicos.
“Esse trabalho de ‘se acalmar’ exige a construção de um espaço interno que acolha o híbrido e o plural dos tempos. Afinal, trocar mensagens e ligações são possibilidades importantes, mas parece ser fundamental também encontrar outras vias criativas para estar no mundo: pode-se escrever, ler, descobrir cantinhos novos na casa e, com isso, alargar o exercício de pensar e sentir, o que inclui a aposta de um ‘estar junto’ mais solidário”, sugere Fagundes.
Para quem trabalhou e morou no mesmo lugar em 2020, a pandemia mostrou o quanto é fundamental o autoconhecimento, a empatia e a paciência. Reorganizar o tempo e estipular limites entre as demandas é essencial para que a ansiedade e o estresse não prejudiquem a saúde. Essa pode não ser uma tarefa fácil, mas é, sem dúvida, essencial.
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Ansiedade e alta produtividade: home office exige equilíbrio publicado primeiro em Catraca Livre
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